segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Zoeh


aposta não. pacto-promessa. algo pelo que viver. algo pelo que morrer. dormir. talvez sonhar.


já tenho 48 cabelos brancos. não, menos de setenta anos, o branco é congelador-de-geladeira-velha-que-não-fecha-mais-direito e o gelo vai saindo saindo saindo saindo e gordinho, entendeu? não, cara, manda pelamor trazer sem colarinho, nunca é branco o suficiente, sempre amareladinho, um nojo. que? passar? pra que passar? vai amarrotadinho assim mesmo que fica lindeza, se colarinho é  gola? acho que sim, manda vir sem gola então por favor e vê se vai logo. tá, nesse canto aqui ta bom, a gente não gosta de muita luz né,  fotoquê? conversa séria, como sempre, a gente só gosta assim. não, não foi uma aposta, foi um pacto-promessa. que Zoeh significa vida, entendeu? led zeppelin, cara, led zeppelin. todos os macacos são fãs de led zeppelin. macacos são tão legais quanto led zeppelin, por isso, entendeu? são o melhor que nós temos por aqui. não, cara, depois a gente lava, lógico que não, barata no sétimo andar? elevador, elevador, elevador, blah blah blah. já desço queridinho. para, para, PARAAAAAAA. que? que sempre assim? a gente é assim como? NÃO não, cara. eu já disse que eu ainda te amo, que ir embora, pirou? não, não foi uma aposta, foi um pacto-promessa. que Zoeh significa vida, entendeu? não foi uma aposta, foi um pacto-promessa. que Zoeh significa vida, entendeu?

congela-se o olhar de expectativa. carne-viva. juventude. tudo isso. nós.                   
  
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ocos                                                            >>                    passos
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infinito. espaço. oco. entre. nós.



já tenho 56 cabelos brancos agora. você não vem nunca? eu não te disse que tinha que vir, cara? não, não foi uma aposta, foi um pacto-promessa. que Zoeh significa vida, entendeu? em 2016 a gente vai casar em todas as religiões, tá? no judaísmo, pra levantarem a gente em cadeiras e balançarem balançarem balançarem e com os gregos pra gente quebrar pratos, só pode ser divertido quebrar pratos, cara. vamos no candomblé também, será que jogam pipoca? só quero se tiver pipoca. no hindu, pra eu botar piercing no nariz e porque tem as roupas mais coloridas e na praia que pode ser qualquer crença ou a gente inventa a adoração ao vento com flores muitas flores por favor, com ou sem  tradição sempre vou querer florezinhas beeeeeem pequenininhas nas festas, me promete que arranja? não, não foi uma aposta, foi um pacto-promessa. que Zoeh significa vida, entendeu? casa, que, casa? não, cara, isso não importa, a gente mora por aí, eu já te disse que as boas casas são de carne e osso e casulos que deixam a gente mais lindeza, entendeu? ai, chega logo, benzinho que ta ventando tanto... qual barulho você acha que tem o vento de dentro do casulo? que, se lagarta tem ouvido? sei lá, isso importa? o que importa é que você chegue logo 57, 58, 59. não, não foi uma aposta, foi um pacto-promessa. que Zoeh significa vida, entendeu?


vou descobrir a causa última das coisas. ver suas raízes. olhar meus fios de cabelo arrancados. um-a-um. um-a-zero. adeus.


sempre existe algo depois.

a
loucura
é
igual
ao
amor.
tolice achar que
o amor pode ser
humanamente aceitável.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

ao vivo

respirar
fumaça fedor perfume pó OXIGÊNIO
meus
pulmões
não te amam mais.

beber
conhaque rum tequila gim ABSINTO
meu
fígado
não te ama mais.

comer
couve cenoura carambola quiabo BERINJELA
meu
estômago
não te ama mais.

gerar
semente flor fruto criança INTRIGA
meu
útero
não te ama mais.

eu
uno duo descontínue acoplado TODO
meus
olhos
não te amam mais.


EU
(obtuso difuso confuso transfuso casulo)


TE
(pronome comnome transnome desnome retome)


AMO.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

João e Maria

Só migalhas.

Poderão marcar
O caminho de volta?

A Trilha Traduz A Trama Intruncada
Perdida
Achada

(Des)Esperada

O fio-da-meada

Eu                                            Você
              
                 O pão da vida
                    Amém

Além?
Nada.

sábado, 25 de agosto de 2012

não

eu enfiaria todos os dedos nesse cabelo desgrenhado e puxaria. bebê. não. olhos sóbrios. dois. quatro. a cerveja. quente. os corpos. mais. as pessoas não são descartáveis. náusea. nem sartre. nem drummond. Você. Você. eu arrancaria suas calças só pra vestir aquela estátua. criança. não. bocas secas. uma. duas. a luz vermelha. os corpos. mais. isso tudo é um absurdo. cansaço. nem caio. nem clarice. Você. Você. eu diria que chorei de novo com aquele filme. adulto. não. eu sinto muito. eu gostaria que. não.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

distrações perdidas

respiro.
resvalo
no oco
do corpo.

o ziguezague dos cigarros cava o túnel de escape à consciência. [nulo]

três
dois
um
volte.

o suicídio é a maior tolice de todas.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Isso era seu, tava comigo

Não é de bom tom começar com incertezas, mas não há outro jeito: eu não sei o que se seguirá nessa folha. Mas escrever é sempre um risco, é um escapar-se, é vício. Tem coisas que não dá pra calar. Talvez houvesse um jeito melhor de contar essa história, talvez ficasse menos hermética e mais fingida e, portanto, mais bonita. Não domino este jeito. E por fim, antes do começo, o querido Manoel de Barros: considere que "90% do que eu digo é invenção, só 10% é mentira." Escrevamos torto por linhas inexistentes. A história é assim:

[Observou-a tirar a bolsa e largá-la na grama, e aquele ato ínfimo já era um despir-se. Que aquela moça tinha olhos nus. - Eu discordo -, ela já foi dizendo, e sorriu; que ela era sempre de brincadeira e por isso mesmo sempre de verdade. Ele sorriu também, porque sabia. O quê nenhum dos dois sabia, mas sabiam pois sabiam-se ali. Era o espaço da invenção. Onde? Em casa, na companhia um do outro. Os dois cansados e estranhos. Onde? naquela trincheira que que só existia ali, no estar. Não diziam os antigos que o eu só existe a partir do tu? Pois. Eles se inventavam. Como? Ora, como todos os que valem a pena. Com aqueles trechos de livros, as músicas, as peças, os filósofos, a política - e aqui falo porque eles quase se encontravam, pra em seguida um eu discordo, na verdade por bel prazer dos dois -, e as histórias, porque ali era tão confortável dizer, até das falhas ou angustiadas - que ela bebeu tequila demais e apagou, que ele dormiu no chão da Lapa, que ela chorou no filme do Shakespeare, que ele disse ter inventado o avião de passageiros, que ela era vergonhosamente fã da Julia Roberts, que ele adorava os vilões com capa, monóculo e chapéu -, e também o presente, a vontade tão colada dentro que nunca era dita: eu ficaria aqui, eu ficaria aqui, eu ficaria, me leve, me leve, é tão leve. É que esse agora era tão bom, com os olhos salgados, as estrelas resistentes à metrópole, a lua de poluição, as luzes da cidade mostrando a fumaça estranha, os navios carregando cidades. Era possível o toque ali, era óbvio, por isso se tocavam, me leve, leve. Era assim, mas nenhum dos dois saberia dizer. Era tudo, ali e neles, de brincadeira, e por isso mesmo sempre de verdade. O haver.]

Eu te isso.

Beijos,
Ana.

domingo, 20 de maio de 2012

por esse ponto

‎[lançaram a bomba nuclear e instaurou-se a terceira guerra mundial. a minha casa teve 73% dos tijolos devorados por formigas vermelhas. dentro de aproximadamente quatro horas e meia acontecerá o apocalipse zumbi. um cara de oitenta e três anos se matou por não suportar mais ser perseguido por borboletas azuis. uma freira em nova guiné deu dois tragos num lucky strike vermelho e passou três dias em alucinações dizendo que estava sendo amordaçada por espantalhos. meu amigo descobriu que maconha causa cãimbra nas axilas. no atacama há uma sala oval de paredes espelhadas onde quem entra some. um homem que perdeu as pernas passava os dias no google earth e descobriu que todas as vacas do mundo pastam olhando pra mesma direção, pelo que ganhou o nobel da paz. e eu amo você.]

domingo, 29 de abril de 2012

raso

mais fundo do que isso não dá, baby. eu vou voltar àquele familiar estado de nada. não, nenhuma expiação lacrimal piegas. já sabemos por tantos meios que somos sós sempre. nenhuma responsabilidade sobre as vontades alheias. nunca querer o querer alheio. é, assim é leve. mas é descaso também. tem remédio? mas porque a gente é assim e todo esse papo. aí achamos aquele refrão pra cantarolar inevitavelmente. é tudo tão inevitável. ou não. você não acredita no que eu digo, meu bem. eu queria por fogo nesse apartamento, tipo caetano. aqui sempre foi assim. um dia fim e e. nenhuma teoria pra recorrer. um fim sem trilha sonora, claro. senão. e só.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

isso passa

e foi dormir pra fingir que não esperava a ligação. talvez fingido assim nem cole. gostoso é pensar que o destino tem preguiça da gente. que o acaso tem inveja da imaginação. de tantos e se. a grande teia de quase todos os conhecidos. e no sonho ele liga e. na verdade a gente inventa o que não. porque o destino é orgulhoso que só. nunca se nega. há de fazer melhor. flores ao mar.

segunda-feira, 19 de março de 2012

desses

eu vou abrir essa cerveja com os mesmos dentes com que te morderei a orelha esquerda e sussurrarei já pirando que te amo e depois num segundo te mordo a boca pra evitar a tolice de um eu também. porque isso é o que pode haver de pior. é o fim de todo rock e início de todo blues - sim, o mesmo que toca sem a ana. temos que conseguir que fique tudo assim suave - mesmo nunca sendo. que somos desses. vamos ser sempre, né. que bom. assim talvez até um de nós durma antes das quatro. antes de não poder evitar a lembrança de que acabamos guardando todas as chuvas. que somos desses. vamos ser sempre, né.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Nós (2)

ontem eu tentei chorar de novo mas não deu. acho que nunca mais vou chorar só porque acabou. eu tenho muita preguiça de você agora, isso não é incrível? e toda essa seca é só porque os bebês morreram, junto com a casa e as laranjeiras - todos embriões imaginários. e aí tem alguém com um sorriso lindo que não é o seu. e mãos maravilhosas que não me conhecem, então. a merda maior de todas é que sempre tem um pronome pessoal bem mais forte que os doces indefinidos: ele, ela, ele, ela. que às vezes quase sempre a gente nunca é. não me liga não, tá?pensa que eu sou mais um demônio, que é mais leve. senão nenhum de nós vai aguentar, tipo closer. eu não te amo mais. desde agora. e fim.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

espera

aqui é o close pro fim. você lembra do que eu disse? as câmeras nem sempre vão pra onde a gente espera. mas eu juro que vai ser bonito. porque é amor aqui. sempre foi. mas aqui é o close pro fim. será que você ainda lembra do que eu disse? as verborragias internas matam mais rápido. isso é o básico mas corroi tudo. talvez reste alguma bela sombra. a gente fez tantas em nenhuma promessa. finalmente aqui é o close pro fim. eu sei que você não lembra mais do que eu disse.

sábado, 28 de janeiro de 2012

insone

nehuma grande guerra. nenhum grande amor. você com seus eus tambéns. eu já sem carne e sem vida. um gole de café. uma gota de poema. o mundo com fome de saber. eu sem nenhum apetite. quase em absoluto silêncio. dentro de um grande mal entendido. estou esquecendo seu rosto.